quinta-feira, 9 de abril de 2009

A auto-suficiência e a sabotagem

Pedro Paulo Rezende, ou Pepê (foto ao lado), foi nosso segundo entevistado. Conhecedor de tecnologias e armamentos militares o jornalista trouxe o conhecimento e a experiência de quem fez a cobertura da áerea militar por anos e também acompanhou o caso de Alcântara.

De férias e por coincidência em Brasília, a redação do jornal Correio Braziliense reconvocou seu (então) repórter logo que soube do acidente. Muito bem relacionado com a assessoria da Aeronáutica, o jornalista não teve dificuldades em obter informações sobre a tragédia.

Na avaliação de Pepê a comunicação, em especial o gerenciamento de crise, foi muito bem conduzido pelo órgão. A atitude de não permitir a entrada no local do acidente era o mais sensato sendo que a temperatura, mesmo um dia após a explosão, ainda era altíssima. Uma "situação complicada", como definiu Pepê.

A base era agora uma área de perícia e precisava ser preservada até o fim do trabalho técnico e a remoção dos 21 cadáveres que se encontravam embaixo das toneladas de ferro do que sobrou da torre de lançamento e do Veículo Lançador de Satélites (VLS).

Sabotagem

"Não houve sabotagem, o que houve foi um erro de projeto", afirmou Pepê. Em resposta as diversas matérias que na época apontavam como causa da tragédia uma possível sabotagem norte-americana ao programa espacial brasileiro.

Na opinião do jornalista órgãos envolvidos no lançamento se acharam "auto-suficiente" na elaboração do projeto. "Eu acho que houve excesso de auto-suficiência do ITA* e do CTA**. Eles acreditavam que estavam fazendo algo completamente inovador e podiam prescindir da experiência externa. E principalmente na questão do gerenciamento da plataforma a gente precisava muito dessa experiência externa", explicou Pepê.

Talvez o maior erro no acidente tenha sido a presença de tanta gente próxima à torre de lançamento. "Você não coloca tantas pessoas em uma área de lançamento. A recomendação é que se tenha grupos pequenos que se revezem nos trabalhos", explicou. Aliado a todo o acontecido a Força Aérea Brasileira (FAB) nunca acreditou que perderia tantos pesquisadores de uma só vez. Alguns deles acompanharam o nascimento do programa espacial brasileiro.

O acidente em Alcântara trouxe, além das mortes e do prejuízo de milhões, a perda de um conhecimento inestimável que ainda precisará de muito tempo para ser readquirido. Se é que ele poderá ser retomado já que não existem substitutos que possuam o mesmo conhecimento técnico que as 21 vítimas tinham sobre o projeto.

*Instituto Tecnológico de Aeronáutica
** Centro Técnico Aeroespacial

sábado, 4 de abril de 2009

Vida e Morte lado a lado

Nossa primeira e importantíssima entrevista aconteceu dentro do próprio IESB, em um estúdio improvisado. Numa tarde quente de Brasília recebemos a jornalista Renata Gonzaga para registrar a experiência vivida no Maranhão e a relação Imprensa x Força Aérea Brasileira (FAB) durante o episódio.

A jornalista, na época da Rede Bandeirantes, partiu para o Maranhão sem saber ao certo o que havia acontecido. Uma nota oficial confirmou o acidente e afirmava não haver mortes fora da área de lançamento. A sala de imprensa montada pela FAB ficava na capital, São Luís, para facilitar o acesso dos jornalistas, já que a base na cidade de Alcântara é de acesso restrito.

A explosão consumiu as 40 toneladas de combustível do Veículo Lançador de Satélites (VLS) e matou 21 técnicos da aeronáutica que trabalhavam na torre de lançamento. Os sobreviventes estavam protegidos em outras áreas da base e alguns assistiram a tudo. Especialistas afirmam que a temperatura no local chegou a 4 mil graus celsius.

No sábado, muita angústia e espera fizeram os jornalistas procurarem pela notícia na própria cidadezinha maranhense. Conversas com moradores relatavam a grande nuvem de fumaça e os boatos de possíveis sobreviventes. Existia também aqueles que não acreditavam que "o pessoal da base" teria morrido.

Depois que a rede Globo exibiu imagens (feitas da praia) do local da explosão, em uma matéria no Fantástico, a Aeronáutica permitiu a entrada "não-militar" no Centro de Lançamento de Alcântara. Ironia ou não, vida e morte se encontraram naquele dia. Na segunda feira (25), grávida de cinco meses, Renata e outros jornalistas tiveram acesso ao cenário de destruição total três dias após o ocorrido. "O local do acidente era um local de completa destruição. Era algo inimaginável que tanto ferro, tanto aço, tanto material extremamente resistente tenha ido ao chão como um pedaço de borracha", lembrou.

Oficias fizeram coletivas e se irritaram quando alguns jornalistas quiseram saber do valor do prejuízo causado pelo acidente. "Outra coisa marcante foi quando o Brigadeiro disse a imprensa, emocionado, que havíamos perdido as 21 melhores cabeças a frente daquele projeto...", interrompida pelo choro a jornalista se emociona mais uma vez e a todos nós.

Mais algumas perguntas e finalizamos nossa primeira entrevista. Não sei se pela nossa sintonia ou por algum outro motivo estávamos (os três) felizes, tristes pelos momentos emocionados da nossa entrevistada e ansiosos com os próximos encontros que ainda teríamos. Certo apenas era que aos poucos conseguíamos fazer nosso trabalho ganhar forma e conteúdo.