De férias e por coincidência em Brasília, a redação do jornal Correio Braziliense reconvocou seu (então) repórter logo que soube do acidente. Muito bem relacionado com a assessoria da Aeronáutica, o jornalista não teve dificuldades em obter informações sobre a tragédia.
Na avaliação de Pepê a comunicação, em especial o gerenciamento de crise, foi muito bem conduzido pelo órgão. A atitude de não permitir a entrada no local do acidente era o mais sensato sendo que a temperatura, mesmo um dia após a explosão, ainda era altíssima. Uma "situação complicada", como definiu Pepê.
A base era agora uma área de perícia e precisava ser preservada até o fim do trabalho técnico e a remoção dos 21 cadáveres que se encontravam embaixo das toneladas de ferro do que sobrou da torre de lançamento e do Veículo Lançador de Satélites (VLS).
Sabotagem
"Não houve sabotagem, o que houve foi um erro de projeto", afirmou Pepê. Em resposta as diversas matérias que na época apontavam como causa da tragédia uma possível sabotagem norte-americana ao programa espacial brasileiro.
Na opinião do jornalista órgãos envolvidos no lançamento se acharam "auto-suficiente" na elaboração do projeto. "Eu acho que houve excesso de auto-suficiência do ITA* e do CTA**. Eles acreditavam que estavam fazendo algo completamente inovador e podiam prescindir da experiência externa. E principalmente na questão do gerenciamento da plataforma a gente precisava muito dessa experiência externa", explicou Pepê.
Talvez o maior erro no acidente tenha sido a presença de tanta gente próxima à torre de lançamento. "Você não coloca tantas pessoas em uma área de lançamento. A recomendação é que se tenha grupos pequenos que se revezem nos trabalhos", explicou. Aliado a todo o acontecido a Força Aérea Brasileira (FAB) nunca acreditou que perderia tantos pesquisadores de uma só vez. Alguns deles acompanharam o nascimento do programa espacial brasileiro.
O acidente em Alcântara trouxe, além das mortes e do prejuízo de milhões, a perda de um conhecimento inestimável que ainda precisará de muito tempo para ser readquirido. Se é que ele poderá ser retomado já que não existem substitutos que possuam o mesmo conhecimento técnico que as 21 vítimas tinham sobre o projeto.
*Instituto Tecnológico de Aeronáutica
** Centro Técnico Aeroespacial
Nenhum comentário:
Postar um comentário